Então Adão
teve relações com Eva, sua mulher; ela concebeu e deu à luz Caim, e declarou:
‘Com a ajuda do SENHOR, tive um filho homem’. Voltou a engravidar e desta vez
lhe nasceu Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim
cultivava a terra. Passado o tempo, Caim apresentou alguns produtos do solo, em
oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, ofereceu as primícias e gordura de seu
rebanho. Ora, o SENHOR aceitou com alegria a Abel e sua oferta. Todavia, não se
agradou de Caim e de sua oferta; e, por esse motivo, Caim ficou muito irado e
seu semblante assumiu uma expressão maligna. Então o SENHOR questionou a Caim:
‘Por que estás furioso? E por qual motivo o teu rosto está transtornado? Se
procederes bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres,
sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti
vencê-lo!’ Contudo, propôs Caim a seu irmão Abel: ‘Saiamos, vamos ao campo!’ E,
quando estavam no campo, aconteceu que Caim se levantou contra Abel, seu irmão,
e o matou. (Gênesis 4.1 –8).
Quero, neste dia, meditar sobre o coração do
homem. Antes, porém, uma rápida passagem pelo contexto. Os dois filhos de Adão
e Eva começaram a trabalhar, pois agora, diferentemente do jardim do Éden, eles
deviam suar para conseguir o pão (ver Gênesis 3.19). Vemos que cada um
trabalhava em algo diferente. Caim lavrava a terra, e Abel era pastor de
ovelhas. Houve, então, o dia em que se agradaram de levar uma oferta a Deus. O
mais importante na oferta dos dois talvez não fosse a grande quantidade do que
levaria ao Senhor, mas a grande qualidade dentro de seus corações. E que
qualidade? A qualidade de reverenciá-lo como SENHOR de toda a criação e como
Deus. Vemos que, ao receber a oferta de Abel, o Senhor se alegrou e a aceitou.
Primeiramente, contudo, Deus agradou-se em obervar o próprio Abel, o coração de
Abel. Deus sondou o seu coração para avaliar se ele dispunha de uma qualidade
de reverenciá-lo como Deus. Ora, lemos em Hebreus 11.4 que, pela fé, Abel
ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim. Caim, por sua vez, não foi aceito
por Deus. Lemos: “Todavia, [Deus] não se agradou de Caim e de sua oferta...”,
v5. Caim se apresentou com o coração maligno a Deus. Algo faltava. Lemos em I
João 3.12: “E não sejamos como Caim, que pertencia ao maligno e assassinou seu
irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram
justas”. Temos, então, a certeza de que Caim não se apresentou humildemente a
Deus, dando-lhe reverência como SENHOR de todas as coisas e como Deus. Enquanto
Deus sentia alegria em Abel e sua oferta e aquilo era doce a Ele, sentia total
descontentamento em Caim e sua oferta, e era como gosto amargo para a boca.
Salomão escreveu: “Abominação ao SENHOR são os perversos de coração, mas os de
caminho sincero são o seu deleite” (Provérbios 11.20). Deus recebeu Abel
deleitando-se na sinceridade do seu coração em achegar-se a Ele com a devida
reverência, ao passe que rejeitava a Caim por não descobrir nele tal
característica. Um não deixou de obervar a infinita majestade do Todo-Poderoso,
aquele que sonda as profundezas do coração do homem, o outro, todavia, foi
imprudente e negligente. Adotemos a diligência de Abel, e façamos mortificar a
insensatez de Caim! Que Deus nos conscientize de tal pecado, não deixando
tratar com desdém a Sua Majestade sublime.
O coração do homem, em sua natureza, é mau (ver
Mateus 7.11; Romanos 3.10 – 18). Às vezes, ouço as pessoas dizerem que uma
pessoa não tem maldade, mas que ela aprende. Sim! Não posso negar que ela aprende,
como também não nego que ela vai crescer com o pecado em seu coração e suas
inclinações serão para o mal. Todos nós somos assim. O profeta Jeremias já
falava: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?” (Jeremias 17.9). Salomão também escreveu: “Sobre tudo o que se deve
guardar, guarda o teu coração, porque dele depende toda a tua vida” (Provérbios
4.23). Vigiemos! O coração do homem é a nascente de suas escolhas; é a raiz de
toda sua árvore de obras; é o fundamento do edifício que as suas atitudes irão
formar. Diante disso, notamos a importância de guardá-lo. Cristo descobre a
maldade presente no homem ao dizer: “Porque do coração procedem os maus
pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias” (Mateus 15.19). Jesus disse
também: “O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem
mau do mau tesouro tira coisas más” (Mateus 12.35). As mesmas motivações
malignas que fizeram com que Caim matasse Abel perduram até hoje no coração do
ser humano. O sentimento de inveja habita em muitos corações, e também motiva
as pessoas a serem ruins e a odiarem, pois a inveja é um dos ventres onde nasce
o ódio. A respeito dela, Salomão escreveu: “A paz de espírito é saúde para o corpo,
mas a inveja corrói como o câncer” (Provérbios 14.30). Esse sentimento faz com
que o homem não aceite a vitória do próximo; faz com que o homem perca a
capacidade de valorizar a vitória do seu próximo; faz com que o homem odeie o
seu próximo e, por fim, também inspira o homem a matar. A inveja é tão digna de
repugnância quanto o ódio – são ambos absolutamente desprezíveis. Guarde o seu
coração da infestação desse mal. A inveja expulsa a paz; a inveja traz
desconforto; a inveja pisa a alegria; a inveja escraviza; a inveja não permite
a paz enquanto não vê o mal do semelhante. Caim, aparentemente, esteve possuído
de inveja, o que o motivou a matar seu próprio irmão. A inveja é obra da carne,
como também a ira (ver Gálatas 5.20 – 21). Vigie se seu coração tem se irado
legitimamente; o que tem causado sua ira? O ódio é sentimento que destrói pouco
a pouco; é como uma doença. Esteja atento! João escreve: “Toda pessoa que odeia
seu irmão é homicida, e sabemos que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo”
(I João 3.15). Desde a queda do homem, tal sentimento passou a lutar contra
nós, e também nos tornou inimigos de Deus (ver Colossenses 1.21). João revela
que o ódio é visto semelhantemente ao pecado de assassinato.
Vemos que Deus diz a Caim: “Se procederes
bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres, sabe que o
pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti vencê-lo!” (Gênesis
4.7). Deus foi absolutamente claro com Caim. Primeiro, você tem uma
oportunidade de mudar; arrependa-se e pratique o bem. Segundo, o pecado está
espreitando a tua alma. Aí está ele, pelejando contra ti; ele busca destruí-lo,
Caim! Deus não esconde o poder do pecado, mas esclarece o seu mal devastador.
Este é o sentido e objetivo do pecado: separar o homem de Deus e lança-lo
eternamente no inferno. Em I Pedro 5.8 está escrito: “Sede sensatos e
vigilantes! O diabo, vosso inimigo, anda ao redor como leão, rugindo e
procurando a quem possa devorar”. Pedro expõe a natureza do maligno, o diabo.
Ele anda espreitando almas. Busca destruir a tudo o que Deus criou. Pedro
esclarece: vosso inimigo. E mostra o que ele faz: anda ao redor. E por quê?
Porque procura a quem possa tragar; a quem possa destruir. O grande adversário
procurará, de inúmeras formas, laçar sua alma com o ódio, porquanto é uma arma
aniquiladora em suas mãos. Ele não medirá esforços para pelejar contra ti, e
jamais cansará dessa tarefa. Ele sempre estará por perto, pois a palavra diz
que ele está ao redor. O coração de Caim, ainda que corrigido por Deus, não foi
capaz de se arrepender. Pelo contrário, Caim foi perdidamente cego pelo poder
maligno do pecado, de modo que chegou a matar seu próprio irmão. Vigie! Sonde
seu coração e veja se não está escravizado pelo maligno. Sonde seu coração,
veja se o inimigo não o atou com sentimentos de ódio e inveja, como se prende
um cão pela coleira com o objetivo de privá-lo de sua liberdade e limitar seus
atos.
Reflitamos sobre os maus falatórios, pois é
um assunto que necessita tratamento nesta sociedade. Sei bem o que motiva as pessoas
a ficarem difamando umas às outras. Sei o que faz com que elas saiam por aí
fofocando, como quem deseja que o nome do próximo seja tido como sujo. Sei o
que motiva as pessoas a fazerem isso: o coração maligno dentro do homem. Às
vezes eu ouço coisas estranhas ao meu respeito, de pessoas que não me conhecem
e não convivem comigo, mas que afirmam tantas coisas sobre mim como se
estivessem comigo todos os dias. E assim é na vida de muitas pessoas. Como
cristãos, devemos reagir da forma mais humilde possível. Certa vez, vi Josemar
Bessa citar: “Se as pessoas que falam mal de nós ficassem um dia em nossa
mente, veriam que a maioria de seus falatórios são mentiras, porém teriam
acusações ainda piores ao nosso respeito”. Infelizmente, muitos não conseguem
lidar com isso. Eu não revido o que falam mal de mim, nem mesmo me defendo;
continuo a viver, a dar o meu testemunho. Penso: se procuro expor minha imagem
como algo bom e empreendo todo esforço para fazer meu nome a alguém que fala
mal de mim, corro um grande risco de ser fisgado pelo orgulho, arma maligna que
destrói muitos de modo muito sutil. Ora, que deleitemo-nos em ser como Cristo,
que, quando injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas
entregava-se àquele que julga justamente (ver I Pedro 2.23). Pedro nos orienta
assim: “Tendo o vosso modo de viver honesto entre os gentios; para que, naquilo
que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação,
pelas boas obras que em vós observem” (I Pedro 2.12). Vemos na sociedade
inúmeros maus falatórios. Isso me faz lembrar do que escreveu Paulo, de que
debaixo da língua está o veneno da serpente, o veneno que engana; e que a
garganta do homem é como um túmulo aberto, e que está cheia de maldição e
amargura (ver Romanos 3.10 – 18). Reflita se sua vida tem sido um abrigo para
isso. Sua língua juntamente com suas palavras têm sido inúteis para o bem, mas
muito úteis para o mal? Reflita se suas palavras têm trazido vida ou morte,
alegria ou tristeza, revolta ou paz. A língua de Caim ainda foi capaz de
convidar o próprio irmão para a morte; sua língua foi fria o bastante para
chamar Abel para o plano maligno formado em seu coração, orquestrado e decorado
com ódio e injustiça.
Reflitam, caros leitores!
Convido todos vocês a oferecerem a Deus algo
bom. Jesus nos chama, e nos diz: “Arrependei-vos!” (ver Mateus 4.17). O coração
arrependido é para Deus e seus anjos motivo de alegria. Leiamos a parábola da
dracma perdida: “Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma,
não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E,
achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrai-vos comigo, porque
já achei a dracma perdida’. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de
Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.8 – 10). Ao contrário do que,
de antemão, pensamos, a dracma não é o centro da parábola, mas a mulher. Não
alego, entretanto, que a dracma não tenha valor. Se assim o fosse, qual seria o
sentido da busca realizada pela mulher?
A parábola inicia dizendo: a mulher. Observe: a mulher perde a dracma; a
mulher acende a candeia para procurar a dracma perdida; a mulher varre a casa
procurando a dracma e, por fim, a mulher encontra a dracma. O resultado de
encontrar a moeda perdida faz com que a mulher se alegre sobremodo. Ela então
convida as amigas para festejar, e assim Cristo ilustra o regozijo nos céus
quando um pecador se arrepende de seus pecados. Acho isso tão lindo. Aquela
moeda era algo de grande estima e valor para aquela mulher, pois que empreendeu
todos os esforços para encontrá-la, de diferentes formas – acendendo a uma
candeia, varrendo a casa, buscando com diligência... Matthew Henry escreveu em
seu comentário bíblico¹: “Mostra-se aqui muito cuidado e esforço na busca da
moeda. A mulher acende uma candeia para olhar atrás da porta, debaixo da mesa,
e em todos os cantos da casa; ela varre a casa, e procura com diligencia até a
achar. Isto representa as diversas maneiras e métodos que Deus usa para levar
as almas perdidas para a sua própria casa: Ele acendeu a candeia do Evangelho,
não para mostrar a si mesmo o caminho até nós, mas para nos mostrar o caminho
até Ele, para que pudéssemos nos descobrir. Ele varreu a casa através das
convicções da Palavra; Ele busca com diligencia, o seu coração esta empenhado
no trabalho de trazer as almas perdidas para si mesmo”. E assim entendemos,
ainda que superficialmente, a parábola da dracma perdida, uma parábola contada
por Cristo para nos mostrar sobre a sua missão em resgatar o pecador e em
resposta aos fariseus que questionaram o ato de Jesus se relacionar com
pessoas, segundo eles, desqualificadas (ver Lucas 15.2). Um coração arrependido
é doçura para Deus. “O verdadeiro e aceitável sacrifício ao Eterno é o coração
contrito; um coração quebrantado e arrependido jamais será desprezado por
Deus!” (Salmos 51.17). Na certeza de que não seremos rejeitados por Deus, caso
nos apresentemos contritos e arrependidos a Ele, podemos nos deleitar no seu
consolável perdão. Ele oferece a todos! É indispensável que nos curvemos em
oração e confessemos nossas faltas a Deus através de um dedicado trabalho em
sondar nossas vidas. Salomão escreve: “Quem camufla suas faltas jamais alcançará
o sucesso, mas quem as reconhece, confessa e abandona, recebe toda a compaixão
de Deus!” (Provérbios 28.13).
O único caminho onde podemos ser poupados da
ira futura de Deus é Cristo; Ele nos salva! Entre e percorra por este caminho:
o caminho do arrependimento. Vá por esse caminho sabendo que, no final, Deus o levará
aos céus para uma glória ainda maior. Agora, se você rejeita o arrependimento,
deixo soar as palavras de Paulo, quando ele escreve: “... por causa da tua
teimosia e do teu coração insensível e que não se arrepende, acumulas ira sobre
ti no dia da ira de Deus, quando se revelar plenamente o seu justo julgamento”
(Romanos 2.5). Ele também escreve: “Ele [Deus] trará tribulação e angústia
sobre todo ser humano que persiste em praticar o mal... ” (ver Romanos 2.9).
Jamais olhe para Deus como simplesmente uma fuga da realidade do inferno. Vá a
Ele como sendo o SENHOR e suficiente Salvador de sua alma, como a Criador de
todas as coisas e digno de toda glória! Creio que Deus convenceu você do seu erro,
pois naquele dia Deus não simplesmente julgará aquele que matou, mas também
aquele que quis matar, que desejou a morte do seu próximo, pois o próprio ódio
contra o próximo é como o pecado de assassinato (ver I Coríntios 4.5; I João
3.15).