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quarta-feira, 14 de maio de 2014

O coração

Então Adão teve relações com Eva, sua mulher; ela concebeu e deu à luz Caim, e declarou: ‘Com a ajuda do SENHOR, tive um filho homem’. Voltou a engravidar e desta vez lhe nasceu Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim cultivava a terra. Passado o tempo, Caim apresentou alguns produtos do solo, em oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, ofereceu as primícias e gordura de seu rebanho. Ora, o SENHOR aceitou com alegria a Abel e sua oferta. Todavia, não se agradou de Caim e de sua oferta; e, por esse motivo, Caim ficou muito irado e seu semblante assumiu uma expressão maligna. Então o SENHOR questionou a Caim: ‘Por que estás furioso? E por qual motivo o teu rosto está transtornado? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres, sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti vencê-lo!’ Contudo, propôs Caim a seu irmão Abel: ‘Saiamos, vamos ao campo!’ E, quando estavam no campo, aconteceu que Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou. (Gênesis 4.1 –8).
Quero, neste dia, meditar sobre o coração do homem. Antes, porém, uma rápida passagem pelo contexto. Os dois filhos de Adão e Eva começaram a trabalhar, pois agora, diferentemente do jardim do Éden, eles deviam suar para conseguir o pão (ver Gênesis 3.19). Vemos que cada um trabalhava em algo diferente. Caim lavrava a terra, e Abel era pastor de ovelhas. Houve, então, o dia em que se agradaram de levar uma oferta a Deus. O mais importante na oferta dos dois talvez não fosse a grande quantidade do que levaria ao Senhor, mas a grande qualidade dentro de seus corações. E que qualidade? A qualidade de reverenciá-lo como SENHOR de toda a criação e como Deus. Vemos que, ao receber a oferta de Abel, o Senhor se alegrou e a aceitou. Primeiramente, contudo, Deus agradou-se em obervar o próprio Abel, o coração de Abel. Deus sondou o seu coração para avaliar se ele dispunha de uma qualidade de reverenciá-lo como Deus. Ora, lemos em Hebreus 11.4 que, pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim. Caim, por sua vez, não foi aceito por Deus. Lemos: “Todavia, [Deus] não se agradou de Caim e de sua oferta...”, v5. Caim se apresentou com o coração maligno a Deus. Algo faltava. Lemos em I João 3.12: “E não sejamos como Caim, que pertencia ao maligno e assassinou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as de seu irmão eram justas”. Temos, então, a certeza de que Caim não se apresentou humildemente a Deus, dando-lhe reverência como SENHOR de todas as coisas e como Deus. Enquanto Deus sentia alegria em Abel e sua oferta e aquilo era doce a Ele, sentia total descontentamento em Caim e sua oferta, e era como gosto amargo para a boca. Salomão escreveu: “Abominação ao SENHOR são os perversos de coração, mas os de caminho sincero são o seu deleite” (Provérbios 11.20). Deus recebeu Abel deleitando-se na sinceridade do seu coração em achegar-se a Ele com a devida reverência, ao passe que rejeitava a Caim por não descobrir nele tal característica. Um não deixou de obervar a infinita majestade do Todo-Poderoso, aquele que sonda as profundezas do coração do homem, o outro, todavia, foi imprudente e negligente. Adotemos a diligência de Abel, e façamos mortificar a insensatez de Caim! Que Deus nos conscientize de tal pecado, não deixando tratar com desdém a Sua Majestade sublime.
O coração do homem, em sua natureza, é mau (ver Mateus 7.11; Romanos 3.10 – 18). Às vezes, ouço as pessoas dizerem que uma pessoa não tem maldade, mas que ela aprende. Sim! Não posso negar que ela aprende, como também não nego que ela vai crescer com o pecado em seu coração e suas inclinações serão para o mal. Todos nós somos assim. O profeta Jeremias já falava: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9). Salomão também escreveu: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele depende toda a tua vida” (Provérbios 4.23). Vigiemos! O coração do homem é a nascente de suas escolhas; é a raiz de toda sua árvore de obras; é o fundamento do edifício que as suas atitudes irão formar. Diante disso, notamos a importância de guardá-lo. Cristo descobre a maldade presente no homem ao dizer: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15.19).  Jesus disse também: “O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mateus 12.35). As mesmas motivações malignas que fizeram com que Caim matasse Abel perduram até hoje no coração do ser humano. O sentimento de inveja habita em muitos corações, e também motiva as pessoas a serem ruins e a odiarem, pois a inveja é um dos ventres onde nasce o ódio. A respeito dela, Salomão escreveu: “A paz de espírito é saúde para o corpo, mas a inveja corrói como o câncer” (Provérbios 14.30). Esse sentimento faz com que o homem não aceite a vitória do próximo; faz com que o homem perca a capacidade de valorizar a vitória do seu próximo; faz com que o homem odeie o seu próximo e, por fim, também inspira o homem a matar. A inveja é tão digna de repugnância quanto o ódio – são ambos absolutamente desprezíveis. Guarde o seu coração da infestação desse mal. A inveja expulsa a paz; a inveja traz desconforto; a inveja pisa a alegria; a inveja escraviza; a inveja não permite a paz enquanto não vê o mal do semelhante. Caim, aparentemente, esteve possuído de inveja, o que o motivou a matar seu próprio irmão. A inveja é obra da carne, como também a ira (ver Gálatas 5.20 – 21). Vigie se seu coração tem se irado legitimamente; o que tem causado sua ira? O ódio é sentimento que destrói pouco a pouco; é como uma doença. Esteja atento! João escreve: “Toda pessoa que odeia seu irmão é homicida, e sabemos que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo” (I João 3.15). Desde a queda do homem, tal sentimento passou a lutar contra nós, e também nos tornou inimigos de Deus (ver Colossenses 1.21). João revela que o ódio é visto semelhantemente ao pecado de assassinato.
Vemos que Deus diz a Caim: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não fizeres, sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja destruir-te; cabe a ti vencê-lo!” (Gênesis 4.7). Deus foi absolutamente claro com Caim. Primeiro, você tem uma oportunidade de mudar; arrependa-se e pratique o bem. Segundo, o pecado está espreitando a tua alma. Aí está ele, pelejando contra ti; ele busca destruí-lo, Caim! Deus não esconde o poder do pecado, mas esclarece o seu mal devastador. Este é o sentido e objetivo do pecado: separar o homem de Deus e lança-lo eternamente no inferno. Em I Pedro 5.8 está escrito: “Sede sensatos e vigilantes! O diabo, vosso inimigo, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar”. Pedro expõe a natureza do maligno, o diabo. Ele anda espreitando almas. Busca destruir a tudo o que Deus criou. Pedro esclarece: vosso inimigo. E mostra o que ele faz: anda ao redor. E por quê? Porque procura a quem possa tragar; a quem possa destruir. O grande adversário procurará, de inúmeras formas, laçar sua alma com o ódio, porquanto é uma arma aniquiladora em suas mãos. Ele não medirá esforços para pelejar contra ti, e jamais cansará dessa tarefa. Ele sempre estará por perto, pois a palavra diz que ele está ao redor. O coração de Caim, ainda que corrigido por Deus, não foi capaz de se arrepender. Pelo contrário, Caim foi perdidamente cego pelo poder maligno do pecado, de modo que chegou a matar seu próprio irmão. Vigie! Sonde seu coração e veja se não está escravizado pelo maligno. Sonde seu coração, veja se o inimigo não o atou com sentimentos de ódio e inveja, como se prende um cão pela coleira com o objetivo de privá-lo de sua liberdade e limitar seus atos.
Reflitamos sobre os maus falatórios, pois é um assunto que necessita tratamento nesta sociedade. Sei bem o que motiva as pessoas a ficarem difamando umas às outras. Sei o que faz com que elas saiam por aí fofocando, como quem deseja que o nome do próximo seja tido como sujo. Sei o que motiva as pessoas a fazerem isso: o coração maligno dentro do homem. Às vezes eu ouço coisas estranhas ao meu respeito, de pessoas que não me conhecem e não convivem comigo, mas que afirmam tantas coisas sobre mim como se estivessem comigo todos os dias. E assim é na vida de muitas pessoas. Como cristãos, devemos reagir da forma mais humilde possível. Certa vez, vi Josemar Bessa citar: “Se as pessoas que falam mal de nós ficassem um dia em nossa mente, veriam que a maioria de seus falatórios são mentiras, porém teriam acusações ainda piores ao nosso respeito”. Infelizmente, muitos não conseguem lidar com isso. Eu não revido o que falam mal de mim, nem mesmo me defendo; continuo a viver, a dar o meu testemunho. Penso: se procuro expor minha imagem como algo bom e empreendo todo esforço para fazer meu nome a alguém que fala mal de mim, corro um grande risco de ser fisgado pelo orgulho, arma maligna que destrói muitos de modo muito sutil. Ora, que deleitemo-nos em ser como Cristo, que, quando injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente (ver I Pedro 2.23). Pedro nos orienta assim: “Tendo o vosso modo de viver honesto entre os gentios; para que, naquilo que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem” (I Pedro 2.12). Vemos na sociedade inúmeros maus falatórios. Isso me faz lembrar do que escreveu Paulo, de que debaixo da língua está o veneno da serpente, o veneno que engana; e que a garganta do homem é como um túmulo aberto, e que está cheia de maldição e amargura (ver Romanos 3.10 – 18). Reflita se sua vida tem sido um abrigo para isso. Sua língua juntamente com suas palavras têm sido inúteis para o bem, mas muito úteis para o mal? Reflita se suas palavras têm trazido vida ou morte, alegria ou tristeza, revolta ou paz. A língua de Caim ainda foi capaz de convidar o próprio irmão para a morte; sua língua foi fria o bastante para chamar Abel para o plano maligno formado em seu coração, orquestrado e decorado com  ódio e injustiça.
Reflitam, caros leitores!
Convido todos vocês a oferecerem a Deus algo bom. Jesus nos chama, e nos diz: “Arrependei-vos!” (ver Mateus 4.17). O coração arrependido é para Deus e seus anjos motivo de alegria. Leiamos a parábola da dracma perdida: “Qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida’. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.8 – 10). Ao contrário do que, de antemão, pensamos, a dracma não é o centro da parábola, mas a mulher. Não alego, entretanto, que a dracma não tenha valor. Se assim o fosse, qual seria o sentido da busca realizada pela mulher?  A parábola inicia dizendo: a mulher. Observe: a mulher perde a dracma; a mulher acende a candeia para procurar a dracma perdida; a mulher varre a casa procurando a dracma e, por fim, a mulher encontra a dracma. O resultado de encontrar a moeda perdida faz com que a mulher se alegre sobremodo. Ela então convida as amigas para festejar, e assim Cristo ilustra o regozijo nos céus quando um pecador se arrepende de seus pecados. Acho isso tão lindo. Aquela moeda era algo de grande estima e valor para aquela mulher, pois que empreendeu todos os esforços para encontrá-la, de diferentes formas – acendendo a uma candeia, varrendo a casa, buscando com diligência... Matthew Henry escreveu em seu comentário bíblico¹: “Mostra-se aqui muito cuidado e esforço na busca da moeda. A mulher acende uma candeia para olhar atrás da porta, debaixo da mesa, e em todos os cantos da casa; ela varre a casa, e procura com diligencia até a achar. Isto representa as diversas maneiras e métodos que Deus usa para levar as almas perdidas para a sua própria casa: Ele acendeu a candeia do Evangelho, não para mostrar a si mesmo o caminho até nós, mas para nos mostrar o caminho até Ele, para que pudéssemos nos descobrir. Ele varreu a casa através das convicções da Palavra; Ele busca com diligencia, o seu coração esta empenhado no trabalho de trazer as almas perdidas para si mesmo”. E assim entendemos, ainda que superficialmente, a parábola da dracma perdida, uma parábola contada por Cristo para nos mostrar sobre a sua missão em resgatar o pecador e em resposta aos fariseus que questionaram o ato de Jesus se relacionar com pessoas, segundo eles, desqualificadas (ver Lucas 15.2). Um coração arrependido é doçura para Deus. “O verdadeiro e aceitável sacrifício ao Eterno é o coração contrito; um coração quebrantado e arrependido jamais será desprezado por Deus!” (Salmos 51.17). Na certeza de que não seremos rejeitados por Deus, caso nos apresentemos contritos e arrependidos a Ele, podemos nos deleitar no seu consolável perdão. Ele oferece a todos! É indispensável que nos curvemos em oração e confessemos nossas faltas a Deus através de um dedicado trabalho em sondar nossas vidas. Salomão escreve: “Quem camufla suas faltas jamais alcançará o sucesso, mas quem as reconhece, confessa e abandona, recebe toda a compaixão de Deus!” (Provérbios 28.13).

O único caminho onde podemos ser poupados da ira futura de Deus é Cristo; Ele nos salva! Entre e percorra por este caminho: o caminho do arrependimento. Vá por esse caminho sabendo que, no final, Deus o levará aos céus para uma glória ainda maior. Agora, se você rejeita o arrependimento, deixo soar as palavras de Paulo, quando ele escreve: “... por causa da tua teimosia e do teu coração insensível e que não se arrepende, acumulas ira sobre ti no dia da ira de Deus, quando se revelar plenamente o seu justo julgamento” (Romanos 2.5). Ele também escreve: “Ele [Deus] trará tribulação e angústia sobre todo ser humano que persiste em praticar o mal... ” (ver Romanos 2.9). Jamais olhe para Deus como simplesmente uma fuga da realidade do inferno. Vá a Ele como sendo o SENHOR e suficiente Salvador de sua alma, como a Criador de todas as coisas e digno de toda glória! Creio que Deus convenceu você do seu erro, pois naquele dia Deus não simplesmente julgará aquele que matou, mas também aquele que quis matar, que desejou a morte do seu próximo, pois o próprio ódio contra o próximo é como o pecado de assassinato (ver I Coríntios 4.5; I João 3.15).